terça-feira, 7 de março de 2017

8M e vênus retrógrado.


Pense um negócio.... porque estou aqui em altos e baixos emocionais, a energia parece seguir a minha onda e ficar caindo. A energia que controla as coisas, não as pessoas. Ou vai que, né? Porque me flagro com medo do escuro e medo de que sem internet eu não possa... sei lá... pesquisar sobre vênus retrógrado. Ou sobre o acento na palavra retrógrado.

Ou acabar de ler aquele texto super importante para acabar a correção da dissertação, que tem batido na minha porta todos os dias, em seus prazos e urgências. 

Tão importante que não salvei...

Enfim...

Vênus retrógado, dizem as línguas astrológicas, supostamente potencializa um mói de necessidades de mudanças nas áreas que rege, que, amostrado que só, são as coisitas do coração e da beleza. Tambem murmuram os profissionais da justificativa para "merdas acontecem", enquanto fazem yoga, acendem incensos e leem Jung, que esse efeito chega ainda mais pauleira para quem tem o signo regido pelo tal planetinha maroto, como é o meu caso: taurina até o tutano.

E olhe que eu ainda estou de TPM.

Aí vejam vocês, me respondam como lhedar com o dia 08 de março amanhã, nas redes sociais, diante de tal conjuntura astrológica? Sim, I'm Feminist. Eu, a Beyoncé e a Hermione. Luxo e glamour.

É que dizer-me feminista, neste momento, no país doido que vivemos, além de ser uma espécie de passaporte para escutar asneiras de machistas imbecis a torto e de direita, parece que também inclue ser confundida ou ter mia "carteirinha feminista" confiscada por pessoas transfóbicas e controladoras do desejo alheio. A primeira coisa eu até aguento (mentira, não aguento não!), mas a segunda... cara... eu sofro. Muito e profundamente. Já contei que tenho ascendente em câncer?

Sim, e aí tem a greve mundial amanhã. Monte de gente querendo receber biscoitinho radfem. Só que eu apoio a greve por motivos meramente "capitalistas", segundo algumas destas mesmas pessoas... tipo, direito à aposentadoria, salários iguais, creche para crianças de FAMÍLIAS trabalhadoras, divisão justa e/ou a compensação financeira dos trabalhos domésticos e um SUS amplo e laico. Direitos coletivos, que são supostamente salvaguardados e implementados pelo Estado e que, portanto, não tem a ver apenas comigo. Com o que eu penso. Com meu umbigo. Ou útero. Ou buceta. Ou o fato de eu ter ou não ter um pau e ser mulher. Porque é o que somos todas nós, mulheres, teimo taurinamente em afirmar.

Como também são mulheres (e estou falando de mulheres, maiores de idade) as putas, muitas delas negras, que, como quaisquer profissionais, merecem ter seus direitos trabalhistas e sociais garantidos em constituição e na prática mas, que, enquanto algumas "companheiras" discutem o patriarcado que governa corpos que não os seus, tem que pagar propina à polícia para manterem-se vivas e talvez não queiram ir lavar o banheiro das mesmas madamas por quanto... duas, cinco, dez vezes menos do que ganham se prostituindo?

Eu tenho meu ideal de mundo, obviamente. Mas sei, na pele e no resto do meu corpo, que ainda não vivo nele, infelizmente. (E não, eu não me prostituo se você está lendo isso aqui achando que esse é um texto personalista, mas cara... de bouas... não acho que o cérebro é um entidade e que todas nós também não usemos o corpo para nos manter. Me chamar de puta ou a qualquer outra pessoa, portanto, é o mesmo (ou pelo menos deveria ser) que chamar de artista visual. Ou de professora, babá ou administradora de empresas.) Até lá minha luta é para que meus ideais se concretizem tentando não colocar a vida de ninguém, em nenhuma espécie de barganha, numa "troca" por algo que ainda não é. Porque pessoas são. E estão.

Mas o pior é que o discurso rad, assim como a maioria dos discursos opressores, cala de forma cruel quem discorda deles. E daí quando você acha que tem algumas coisa muito, mas muitooooo errada quando a bancada evangélica e suas supostas "companheiras" concordam com algo, você é chamada de libfem. Como xingamento, Brasil!!! Enquanto paga a cerveja!!!!!!!!

Os pacová enche, fia.

Mas não, eu não me afastarei, Persona non grata já sou, e se é luta pelo poder que querem, é luta pelo poder que terão. Porque eu me recuso a fazer parte de uma parte da história do movimento (que é muito maior que eu e você e a internet) que vem tendendo a se mostrar elitista, burra e dogmática, e que, assim como aqueles que critica e generaliza, pode excluir e matar por omissão e preconceito. Ou por ambos. Além de usar o termo sororidade para calar as coleguinhas que não seguem cartilhas e manuais, ou que ousam (que abuso!) se verem de livres de opressões e preceitos de quem quer que seja.

Me recuso. Mesmo.

Sim, a luta é fora, contra o patriarcado, mas não sou tão ingênua, nem tão novata, para não enxergar que ela também está acirrada "do lado" de dentro. Falar de fragmentações "desnecessárias" quando alguém critica algo coletivo do qual faz parte é manter um conforto mentiroso que só apazigua quem não precisa repensar seus privilégios neste mesmo coletivo. Mesmo sendo mulher. Principalmente por ser mulher,

Podem culpar Vênus, desta vez a deusa, não o planeta, aquela libfem que dava biscotinho pra macho, não tinha vontade própria, portanto vivia sob a ditadura patriarcal da beleza e ainda é mãe do tal menino mimado cum apelido de cupido, que faz mulheres (com pau e sem pau) se envolverem com esses homis maus e abusadores.

E como o discurso rad é, em sua versão digital, normalmente personalista e desonesto intelectualmente vai também o toque "pessoal" para ajudar no embasamento: sim, é isso mesmo, se eu não posso gozar, não é minha revolução.

E tenho dito.

2 comentários: